DITADURA
'O Inimigo é outro'
Alô, Alô boçalidade.
Fiz no Brasil seis filmes de longa-metragem sendo que 5 deles foram rodados entre setembro de 1969 e maio de 1970. A Belair (minha ex-produtora) entre janeiro e maio de 70 fez setenta e seis longas-metragens (cinco em cor), A Família do Barulho, Bete Bomba a exibicionista; Barão Olavo - O Horrível; Copacabana Desvairada; Cuidado Madame; Sem essa Aranha; A Miss e o Dinossauro; os ímpares são meus, os pares do Rogério e o último é da Belair - com exceção dos dois primeiros, todos são em cor Mas ainda é Matusalém quem reina, 16-70-35-8-3D etc, o problema não está na bitola. Quando fiz Matou a Família e foi ao Cinema e o Anjo Nasceu em 16 mm, b&b, ampliado, o resultado foi genial, cavernoso, delinquente. Os lordes perguntaram sobre os 'filminhos'. Aqui é necessário uma explicação:"filminhos" era o que eu fazia, porque obras eram o que se guardava debaixo das latas de detefon. Hoje meus filmes são muitos e em cor. E agora?
Colonizados e reacionários. O cinema é uma coisa que vocês nem desconfiam, na engrossada veio tudo à tona, não se engana mais. Os sabidos armaram a "jogada industrial", se uniram ao que há de pior, é claro, e conseguiram fazer os piores filmes brasileiros de todos os tempos. Estão nadando no vinagre e vão fazer a Brasilian Film Inc. em defesa e nnome de nossa cultura. Atenção: mixagem em alta não salva burrice. Os colonizadores (no caso, críticos imbecis de direita delirante), impuseram seu gosto, ditaram o tom e todos engoliram sempre sérios, serão uma das últimas etapas iniciadas pelas missões Banana Fruit-baby, Johnson-Cadillac-Gulf Oil, Escova Tec-Gillete Azul, Colgate, Brasilian Filmx Inc.. A jogada é pequena: sair da kitinete para a cobertura cafajeste da Vieira Souto é muito pequeno.
"Matou a Família e Foi ao Cinema" está interditado pela censura porque dizem ser a cópia de má qualidade. A qualidade da cópia é a melhor que pode ser obtida no Brasil, o problema está na ampliação (...).
Julio Bressane
Londres - setembro de 1970
Fragmento-cópia de carta datilografada por Júlio a Elyseu
Artistas, professores, músicos, civis e intelectuais foram perseguidos, cassados, exilados, torturados. durante o período da ditadura
À esquerda, vídeo entrevista com Elyseu em 2013 e à direita, compêndio de entrevistas com o diretor.
Elyseu
Elyseu sofreu uma pressão muito grande na época da ditadura, foi preso, seus filmes ficaram presos na censura, todos os amigos foram embora para Londres e ele se auto exilou em Pernambuco e na Paraíba, iniciando um trabalho em antropologia com Câmara Cascudo e Gilberto Freire, saindo da panela de pressão que havia se instaurado no Rio de Janeiro. Seu último trabalho desta série foi em Alagoas em 1989, o Guerreiro, dedicado a Glauber.
Seus documentários correram o interior do norte nordeste, circulando com base pela lei do Curta.
A Ditadura militar brasileira ou Quinta República Brasileira foi o regime instaurado em 1 de abril de 1964 e que durou até 15 de março de 1985, sob comando de sucessivos governos militares. De caráter autoritário e nacionalista, teve início com o golpe militar que derrubou o governo de João Goulart, o então presidente democraticamente eleito. O regime acabou quando José Sarney assumiu a presidência, o que deu início ao período conhecido como Nova República (ou Sexta República). Apesar das promessas iniciais de uma intervenção breve, a ditadura militar durou 21 anos. Além disso, o regime pôs em prática vários Atos Institucionais, culminando com o Ato Institucional Número Cinco (AI-5) de 1968, que vigorou por dez anos. A Constituição de 1946 foi substituída pela Constituição de 1967 e, ao mesmo tempo, o Congresso Nacional foi dissolvido, liberdades civis foram suprimidas e foi criado um código de processo penal militar que permitia que o Exército brasileiro e a Polícia Militar pudessem prender e encarcerar pessoas consideradas suspeitas, além de impossibilitar qualquer revisão judicial.
Apesar do combate aos opositores do regime ter sido marcado por torturas e assassinatos, as Forças Armadas sempre mantiveram um discurso negacionista. Só admitiram oficialmente a possibilidade tortura e assassinatos em setembro de 2014, em resposta à Comissão Nacional da Verdade. O documento, assinado pelo Ministro da Defesa, Celso Amorim, menciona que "o Estado brasileiro [...] já reconheceu a ocorrência das lamentáveis violações de direitos humanos ocorridas no passado".
Fonte:
Ditadura militar brasileira – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)