O PROJETO EM SÍ
ELYSEU E O ‘CINEMA DE INVENÇÃO: ENTRE OS DITOS E A DITADURA’ é a proposta de trazer a público de forma gratuita, uma programação extensa sobre cinema e a genialidade plural de Elyseu apresentada aqui, com textos e imagens sobre sua trajetória de 50 anos nas artes e audiovisual. Premiado no exterior, além de seus longas icônicos, realizou expressivo trabalho etnográfico e antropológico no país.
Para isso a proposta traz, em suas falas e entrevistas, a passagem histórica pela repressão e ditadura do país, as memórias, conhecimentos técnicos e vivências ímpares de Elyseu.
Seus longa-metragens censurados nos anos 70, são reconhecidos como representação histórica, icônica e expressionista de um momento social. Elyseu era um cineasta artista, ou melhor, um artista plástico cineasta. Fazer sua arte-filme foi um se debruçar sobre a própria materialidade e emergência e trazer ao mundo, o seu olhar. Elyseu gestou, produziu e editou seus filmes.
Organizamos a valorosa contribuição reconhecida entre antropólogos, etnólogos, cientistas sociais e professores. Compilamos aqui, o relato tão rico que reavivam as sementes socioculturais e simbólicas daquilo que forma nossa cultura e raiz. Em textos e registros presentes na mostra proposta, veremos cenas e apresentações de personagens fantásticos, assombros, fantasmas, bichos fabulosos da fauna ameríndia, a exemplo do documentário Boi Calemba. Para transladarmos no tempo e no espaço daqueles que já não lembram ou, dos que esqueceram que se lembram, apresentamos seus documentários que nos propõem navegar pelo folclore, margem da realidade que mais se permite à ficção.
Veremos em Caruaru e Campina Grande as feiras onde não são só as mercadorias se trocam. O burburinho de receitas, encantos, mandingas e negociatas mostram uma realidade multiétnica e segredos que correm risco de extinção.
Elyseu mergulha no tangível, no imaginário, no repertório do folclore popular e no sincretismo religioso inserido em suas manifestações. Importantíssimo acervo etnográfico e antropológico como assim afirmaram os sociólogos e pesquisadores Gilberto Freyre e Luís Câmara Cascudo, além de inúmeros pesquisadores.
Aqui neste site o projeto se organiza, deixando a programação para acesso do público. Boa jornada a todos.
Via Cultural Instituto de pesquisa e Ação Pela Cultura
Mário de Andrade, em “A Situação Etnográfica no Brasil” cita trecho do “Catálogo da Sociedade de Etnografia e Folclore”, do Centro Cultural São Paulo, disponível em: http://bit.ly/catalogoetno
“(…) A Etnografia brasileira vai mal. Faz-se necessário que ela tome imediatamente uma orientação prática baseada em normas severamente científicas. Nós não precisamos de teóricos, os teóricos virão a seu tempo. Nós precisamos de moços pesquisadores que vão à casa recolher com seriedade e de maneira completa o que esse povo guarda e rapidamente esquece, desnorteado pelo progresso invasor (…)”
Com o desenvolvimento do Cinema como linguagem em um país considerado subdesenvolvido e sob censura, Elyseu Visconti Cavalleiro criou filmografia e fotografia ímpares. Seu trabalho, como ele, correu o mundo.
Assim como Mário de Andrade, anos depois, por conta de um exílio que se impôs durante os anos da ditadura no país, Elyseu enveredou pelo interior carioca, litorais e nordeste brasileiro filmando e registrando as festas e o folclore. Seus documentários que nos propõem navegar pelo folclore, margem da realidade que mais se permite à ficção.
Colaborador da produtora de filmes Herbert Richers, Elyseu fez vários documentários e cine noticiários no Brasil e no mundo. Ele já havia realizado no Paraguay, em 1962, um curta metragem sobre a Arte Barroca para a Embaixada do Brasil. Trabalhou no roteiro do filme 'Morte em Três Tempos', de Fernando Cony Campos.
A convite do Itamaraty, viaja pelo Paraguay, Bolívia e Peru divulgando a Arte Popular Brasileira através de palestras e de seus documentários.
Elyseu em sua trajetória foi bolsista do Governo Francês de 1964 a 1965. Realizou conferências e foi assistente de Jean Rouch, diretor de filmes do Museu do Homem, Paris. No período teve também bolsa de estudos do Governo da Tchecoslováquia, onde fez o documentário 'Monoloso' sobre a ocupação nazista em Praga, premiado em festival no qual o realizador Jory Ivens era o presidente do júri. Recebeu o Premio Aquisição no VII Festival Internacional de Leipzer - 1965 - Alemanha Oriental. Na sequência viajou para o Oriente realizando vários documentários.
Foi Conselheiro do Festival de Brasília, realizou projeções na Assembleia Geral da UNESCO, em Paris. Realizou projeções e palestras no Tropen Museum em Amsterdã 1983, nas Cinematecas do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, e no Palais de Chailot - Paris, 1983.
Convidado pelo governo francês (Ministere de la Culture et L'ducation, Jacques Laing, em 1992, apresentou dez documentários sobre o Folclore Brasileiro na Galerie Naciolale de Jeu de Paume.
Através da Embaixada Brasileira em Portugal, foi convidado pelo Museu de Arqueologia e Etnografia de Setúbal a apresentar a exposição 'Sociofotografias - Temas Etnográficos Brasileiros' composta por 150 fotos ampliadas em cores e a projeção de dez documentários.
Foi convidado a participar do Laboratório de Dramatização de festas e danças do Theatre Du Soleil em Paris, em 1995, por Ariene Minouchkine (diretora) com seus documentários sobre a cultura popular. Na sequência foi convidado a representar o Brasil no Coloquium de Estudos de Sociologia da América Latina na Alemanha - Universidade de Konstanz, onde expõs 130 fotos e acompanhou a projeção de seus documentários.
Nos anos 2000, Elyseu continuou gravando documentários e fazendo exposições no país. Seus filmes continuaram a rodar em festivais internacionais e mostras, sendo que seu filme O Lobisomem foi considerado o melhor filme do Cinema Independente em 2011. Com duas mostras retrospectivas em São Paulo e Belo Horizonte, Elyseu trabalhava em um desenho animado e e um documentário, além de participar de 2 projetos sobre ele e sua vida-obra.